24 February 2007

Maria


Maria
Nascida no monte
À beira da estrada
Maria
Bebida na fonte
Nas ervas criada


Talvez
Que Maria se espante
De ser tão louvada
Mas não
Quem por ela se prende
De a ver tão prendada


Maria
Nascida do trevo
Criada na trigo
Quem dera
Maria que o trevo
Casara comigo
Prouvera
A Maria sem medo
Crer no que lhe digo
Maria
Nascida no trevo
Beiral do mendigo
Maria
Nascida no trevo
Beiral do mendigo

Maria
De todas primeira
De todas menina
Maria
Soubera a cigana
Ler a tua sina

Não sei
Se deveras se engana
Quem demais se afina
Maria
Sol da madrugada
Flor de tangerina
Maria
Sol de madrugada
Flor de tangerina

Zeca Afonso

23 February 2007

Alma de passaro...


Hoje eu desejo um risco de asa
num céu sereno...
Jardins suspensos,na minha casa
e cortinas de teia de aranha.
Um candelabro a romper as sombras
onde se escondem as minhas magoas.
De vestes negras,capas longas
e anéis nos dedos onde há venenos...
servir cicuta em alabastros,
romper veias com um punhal.
Servir um tigre como repasto,
florindo jarras com as "flores do mal".
Chamar Messalina a minha mesa
e Baudelaire a minha cama.
Hoje eu desejo romper grades
da vida parda que em que me acoito...
quebrar algemas,abrir asas!

21 February 2007

O grande palco...


Quantas vezes caímos,na penumbra
dos astros que apagamos cada dia...
sepultamos a chama que deslumbra
com desprezo, rancor e cobardia.
Mascaramos as nossas frustrações,
abarcamos a cena em grande gesto...
somos actores das nossas ilusões,
queremos ir longe,mas ficamos perto.

20 February 2007

Malhas de pensamentos...


O meu pensamento esvoaça para alem da minha razão...
a paisagem que que me trespassa,com catadupas de brilhos...
de energias sem fim...
tenta prender-me em vão a sombra!
Um cenário só sonhado,
são malhas de pensamentos
consistentes como o vento.
Fico enredada,sabendo
que estou num dos meus palcos...
sao poemas que eu invento
de uma historia de cordel....

18 February 2007

Me gustas


"ME gustas cuando callas porque estás como ausente,
y me oyes desde lejos, y mi voz no te toca.
Parece que los ojos se te hubieran volado
y parece que un beso te cerrara la boca.

Como todas las cosas están llenas de mi alma
emerges de las cosas, llena del alma mía.
Mariposa de sueño, te pareces a mi alma,
y te pareces a la palabra melancolía.

Me gustas cuando callas y estás como distante.
Y estás como quejándote, mariposa en arrullo.
Y me oyes desde lejos, y mi voz no te alcanza:
déjame que me calle con el silencio tuyo.

Déjame que te hable también con tu silencio
claro como una lámpara, simple como un anillo.
Eres como la noche, callada y constelada.
Tu silencio es de estrella, tan lejano y sencillo.

Me gustas cuando callas porque estás como ausente.
Distante y dolorosa como si hubieras muerto.
Una palabra entonces, una sonrisa bastan.
Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto."

Pablo Neruda

15 February 2007

Vivem em nos...


Vivem em nós inúmeros;
Se penso ou sinto, ignoro
Quem é que pensa ou sente.
Sou somente o lugar
Onde se sente ou pensa.

Tenho mais almas que uma.
Há mais eus do que eu mesmo.
Existo todavia
Indiferente a todos.
Faço-os calar: eu falo.

Os impulsos cruzados
Do que sinto ou não sinto
Disputam em quem sou.
Ignoro-os. Nada ditam
A quem me sei: eu 'screvo.

Ricardo Reis

14 February 2007

Dia dos Namorados!


    Todas as cartas de amor são
    Ridículas.
    Não seriam cartas de amor se não fossem
    Ridículas.

    Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
    Como as outras,
    Ridículas.

    As cartas de amor, se há amor,
    Têm de ser
    Ridículas.

    Mas, afinal,
    Só as criaturas que nunca escreveram
    Cartas de amor
    É que são
    Ridículas.

    Quem me dera no tempo em que escrevia
    Sem dar por isso
    Cartas de amor
    Ridículas.

    A verdade é que hoje
    As minhas memórias
    Dessas cartas de amor
    É que são
    Ridículas.

    (Todas as palavras esdrúxulas,
    Como os sentimentos esdrúxulos,
    São naturalmente
    Ridículas.)

    Álvaro de Campos

13 February 2007

Filosofias Felinas!


Os cães são cães,
as aves são aves,
os gatos são deuses!

Mephisto(o meu miau loll)

10 February 2007

Cair da tarde...


Escurecia...
peguei no rosário e acariciei-o,
como a mãe que embala o berço,
como o lavrador que pega no arado
e lavra a terra...
Parecia que já não escurecia...

08 February 2007

Sonhar de olhos abertos...


Sonho,mesmo dorida
sonho esta saudade
ainda clara em mim...
reflexos de outros ais...
Sonho de olhos abertos para a bruma
da cidade...
nevoeiros de palavras não ditas,
mas cuspidas com fervor.

07 February 2007

Dispersas...



Instantes de fantasia a esvoaçar
que não vem
apagar desamor,indiferença...
realidades cruas.
Alegria que fugiste para um canto
onde nao cantas a ninguém,
onde se esta as escuras...

05 February 2007

Poema inacabado!


Começo a pensar que os pássaros
emigram para sul
e que a neve do verão lhes tolhe a asa voam como quem tem o céu no colo
já não sabem onde têm a casa florescem como molhos de alfinetes na paisagem e passam a rasar o teu orgulhosamente frio de pernas rígidas e pálpebras cerradas a passar o rio e não repousam perfumados com plumas nem pétalas de jade mas derretem o ouro do seu canto sobre o teu corpo quente são águias com guizos que tocam finíssimos acordes que te cingem a cintura impregnados do ritmo de quem vem da cor
pousam na barca dos anjos devotados e abrem-se como a luz da flor
partiram de cidades através dos brilhos que iluminam sonhos e desejos
por detrás de cortinas que escondem estátuas de alabastro
são ecos de limbos em que o gosto se balouça
como quem escuta a própria voz
ondulada no fascínio e devagar se alenta
chega a ser um movimento hermético
de todos nós
quando nos sentimos abertamente por dentro
de filamentos e candeias sem pavio
e sem respiração
se te cair a mão fechada para o lado
das estrelas
atravessando um murmúrio e um gemido
que nunca se inventou
cada leme tem quilhas e cada gota que se apaga
respira a esteira das palavras e ilusões
que tocam violinos sobre as águas
em que o teu pensar descansa
e eu encosto-me aos umbrais deste ranger de pontes
e rompo o casco dos meus olhos
que ainda não sabem como irão tocar
e o teu corpo abre-se informal e adormecido
como quem nunca teve os pés envoltos
em roseiras
como quem descobre o acordar do esquecimento
mas as bocas são campos por dentro de nomes
que ninguém conhece
e as mãos são rosários que rezam por quem há-de vir
é um suavemente entrar na porta inquieta
de uma lâmpada
e despir os raios luminosos do silêncio debruçado
tudo pode balançar do princípio até ao fim
por bátegas de rosa
por cúpulas de eterno encantamento
mas tudo será nada tudo ou talvez somente pouco
na imensidão enigmática do pensamento
docemente coberto de cegas mãos de vento
enlouquecem as pedras que me descobrem
no caminho generoso que me tenta
e finalmente os dedos infiltrados se arremessam
na ternura fortemente calorenta
já todos os barcos vogam longamente
vela solta vela altiva
e todo o grito dos porões é rouco
e mergulhado
o mar tremeu o sol desmaia
neste poema inacabado
corolas que se abrem como heras
e enlaçam teu corpo já febril e atordoado
boca na boca se ergue um hemisfério
de amplexos mais profundos
até os teus nervos transbordam de puros cometas
que sobem as escarpas fabulosas do teu sonho
amontoado nas margens do prazer maior
numa muralha de esmeralda
se esvai até ao abandono na rosácea
de um inimaginável contentamento
podem já estar a levar-te para o teu novo futuro
onde até os poros são incandescentes
onde a febre sobe por degraus
que a ciência nunca há-de descobrir
onde a cadência do teu pulso é uma vertigem
pelo teu abismo glorioso de prodígios
onde tudo nasce em ânforas de lava
e de trovão
onde tudo são pétalas de seda
por dentro de agulhas subtilmente voadoras
onde tudo estremece e se desmorona no ruído do orgasmo
por isso é que os poetas amam sempre até mais tarde
e quando o lume geme e grita
é porque arde
labaredas em concha bivalve que absorvem
todo o incêndio da mulher aprofundada
num insondável corpo entregue ao seu futuro
corais nas níveas coxas
e muita luz de cada lado
já todas as cores são tumultuosas e são roxas
no arder imperecível deste poema inacabado!

Este "mimo" foi-me oferecido pelo meu amigo Hélder Bettencourt,brigado.ta lindo!!

01 February 2007

A Esmeralda perdida...

Nesta ultima semana não houve um dia que não acordasse sem noticias da esmeralda. A menina da Sertã que ninguém sabe onde esta. O que e estranho...é ser possível que a nossa policia não descubra uma menina preste a fazer 5 anos? Então não estamos seguros! Porque qualquer gangster vai escapar das malhas da lei! Mas o mais estranho e Luís o pai adoptivo da menina ter sido condenado a 6 anos de prisão por amar e por não abdicar da pequenina. Entregar a menina a um pai que só fez o teste de paternidade por decreto judicial e agora a quer de volta!? Para mim e incompreensível! Milhares de portugueses estão do lado do sargento...só mostra que a sociedade è por vezes mais justa que a própria justiça...