05 February 2007

Poema inacabado!


Começo a pensar que os pássaros
emigram para sul
e que a neve do verão lhes tolhe a asa voam como quem tem o céu no colo
já não sabem onde têm a casa florescem como molhos de alfinetes na paisagem e passam a rasar o teu orgulhosamente frio de pernas rígidas e pálpebras cerradas a passar o rio e não repousam perfumados com plumas nem pétalas de jade mas derretem o ouro do seu canto sobre o teu corpo quente são águias com guizos que tocam finíssimos acordes que te cingem a cintura impregnados do ritmo de quem vem da cor
pousam na barca dos anjos devotados e abrem-se como a luz da flor
partiram de cidades através dos brilhos que iluminam sonhos e desejos
por detrás de cortinas que escondem estátuas de alabastro
são ecos de limbos em que o gosto se balouça
como quem escuta a própria voz
ondulada no fascínio e devagar se alenta
chega a ser um movimento hermético
de todos nós
quando nos sentimos abertamente por dentro
de filamentos e candeias sem pavio
e sem respiração
se te cair a mão fechada para o lado
das estrelas
atravessando um murmúrio e um gemido
que nunca se inventou
cada leme tem quilhas e cada gota que se apaga
respira a esteira das palavras e ilusões
que tocam violinos sobre as águas
em que o teu pensar descansa
e eu encosto-me aos umbrais deste ranger de pontes
e rompo o casco dos meus olhos
que ainda não sabem como irão tocar
e o teu corpo abre-se informal e adormecido
como quem nunca teve os pés envoltos
em roseiras
como quem descobre o acordar do esquecimento
mas as bocas são campos por dentro de nomes
que ninguém conhece
e as mãos são rosários que rezam por quem há-de vir
é um suavemente entrar na porta inquieta
de uma lâmpada
e despir os raios luminosos do silêncio debruçado
tudo pode balançar do princípio até ao fim
por bátegas de rosa
por cúpulas de eterno encantamento
mas tudo será nada tudo ou talvez somente pouco
na imensidão enigmática do pensamento
docemente coberto de cegas mãos de vento
enlouquecem as pedras que me descobrem
no caminho generoso que me tenta
e finalmente os dedos infiltrados se arremessam
na ternura fortemente calorenta
já todos os barcos vogam longamente
vela solta vela altiva
e todo o grito dos porões é rouco
e mergulhado
o mar tremeu o sol desmaia
neste poema inacabado
corolas que se abrem como heras
e enlaçam teu corpo já febril e atordoado
boca na boca se ergue um hemisfério
de amplexos mais profundos
até os teus nervos transbordam de puros cometas
que sobem as escarpas fabulosas do teu sonho
amontoado nas margens do prazer maior
numa muralha de esmeralda
se esvai até ao abandono na rosácea
de um inimaginável contentamento
podem já estar a levar-te para o teu novo futuro
onde até os poros são incandescentes
onde a febre sobe por degraus
que a ciência nunca há-de descobrir
onde a cadência do teu pulso é uma vertigem
pelo teu abismo glorioso de prodígios
onde tudo nasce em ânforas de lava
e de trovão
onde tudo são pétalas de seda
por dentro de agulhas subtilmente voadoras
onde tudo estremece e se desmorona no ruído do orgasmo
por isso é que os poetas amam sempre até mais tarde
e quando o lume geme e grita
é porque arde
labaredas em concha bivalve que absorvem
todo o incêndio da mulher aprofundada
num insondável corpo entregue ao seu futuro
corais nas níveas coxas
e muita luz de cada lado
já todas as cores são tumultuosas e são roxas
no arder imperecível deste poema inacabado!

Este "mimo" foi-me oferecido pelo meu amigo Hélder Bettencourt,brigado.ta lindo!!

1 Rnhau:

Blogger _Carol_ said...

Oi...
Bom espero q o ano passe mesmo rapido!!!

Lindo seu texto...

bjus

21:12  

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